A história de um alguém:

Abri os olhos pela manhã,
Foi a primeira coisa que eu fiz sã.
Levantei, tomei banho, saí.
Comi pouco e como sempre bastante eu bebi.

Lembro que eu ainda estava na casa,
Mas já não voava com a minha própria asa.
Difícil era se manter de pé,
Me sentia como se estivesse num carro em ré.
Estômago parecia brasa,
A piscina das crianças já não parecia rasa.

Eu? Quem sou eu?
Hoje? O que sou eu?

Diziam que preciso me tratar,
Outros diziam que precisava rezar.
Até ouvi sobre novamente casar.

Se fosse a primeira vez.
Se fosse um dia do mês.
Talvez... Talvez não me culpariam.
Sobre alcoolismo não falariam,
E penitência e culpa não me jogariam.

Era festa. Todos bebem na comemoração.
Assim eu pensava enquanto discutiam minha situação.
Ai olhei pro lado e de tudo me lembrei.
Minha filha já havia morrido.
Eu havia bebido.
No berço esquecido.
O gorfo depois do leite havia escorrido.

Por isso falaram. Por isso falavam.
Julgavam, gritavam, se esberravam.
Ninguém via que quanto mais me julgavam,
Mais me matavam.

É. Acho que estão certos...
Viciada?
Separada,
Culpada,
Triste,
Desamparada....

Era vício. É vício.
Não bebia como todos. Bebia mais.
E me sentia ligada no "tanto faz"
Somente hora que me vi e me assumi,
Foi que senti paz.

Agora to aqui.
Internada, sendo tratada e cuidada.
Agora to seguindo minha estrada.
Não está fácil essa jornada.
Mas sei que a bebida me deixou acabada.
Minha família e vida amargurada,
Agora sou esperança e posso ser curada.
Sou alcoolatra, viciada,
Mas to me tratando na caminhada.

Quero vida, tenho esperança em recomeçar.
Quero um amor, quero amar.
Quero mesmo me libertar.
Remar, amar, re-amar.
Bela frase, belo bordão.
Atitude de assumir minha situação,
Mas não aceitar essa condição.

Hoje não bebo,  não me entrego não.
Hoje to na reabilitação.
Dou valor a vida e ao coração.
Venço a vontade e a emoção.
Sou mulher, sou lição!

                  - Kimberly Luciana Galvão.